BAÚ LITERÁRIO

Tratam-se de textos ( resumos de ensaios) que são publicados a cada 15 dias no suplemento literário da Academia Goiana de Letras ( encarte do jornal Diário da Manhã de Goiânia)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ELOS DA MESMA CORRENTE – Rosarita Fleury

Tive a ventura de conhecer Da. Rosarita! Apesar de haver uma certa aproximação familiar, minha mulher é irmã do esposo de Elizabeth Fleury, sua filha, só tive oportunidade de visitá-la uma única vez na sua residência, à Avenida Paranaíba, nos idos de 1968. Naquele dia ela dedicou-me o seu livro “Elos da mesma corrente”, lembro-me que conversamos sobre suas lides literárias; mais ouvia suas histórias do que propriamente falava das minhas.
Ficou-me, daquela visita, a imagem de uma pessoa extremamente modesta, de prosa agradável e de espírito superior, com a capacidade de deixar no interlocutor a sensação de que tinha muitas mais coisas para dizer.
Neste mês de junho vão ser comemorados 51 anos de lançamento daquele seu livro, estando, inclusive, programada uma sessão festiva na Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, alusiva a este acontecimento e ao cinquentenário da premiação Julia Lopes de Almeida, que lhe foi concedida pela Academia Brasileira de Letras.
Recentemente tive a oportunidade de discutir com a escritora Elizabeth Fleury, por sinal membro da AFLAG, alguns aspectos da vida de Dona Rosarita, principalmente no que concerne ao seu premiado livro “Elos da Mesma Corrente”.
Procurava, naquela oportunidade, descobrir algumas curiosidades a respeito da produção daquele livro, hoje considerado um dos clássicos da literatura goiana.
A maioria das informações que serão aqui divulgadas é inédita, portanto, sinto emoção e alegria por trazer ao conhecimento dos leitores alguns acontecimentos da vida desta grande escritora goiana, orgulhosamente, para nós, pertencente aos quadros da Academia Goiana de Letras.
Conta-me a Elizabeth que a mãe gostava de dizer que desde criança sempre sonhou escrever um romance, por ouvir relatos de tias e avós a respeito de acontecimentos em fazendas de escravos; sua mente de criança registrou as estórias fantásticas contadas pelo negro Salu, ex-escravo alforriado pelo seu avô.
Uma curiosidade interessante: seu primeiro projeto de livro, na realidade, foi “Sombras em Marchas”, porém, teve que interrompe-lo, pela impossibilidade de viajar ao Mato Grosso, palco da trama, a fim de pesquisar; aliás, diga-se de passagem que em 1970 ela conseguiu fazer a viagem e então completou aquele livro, lançando-o em 1985.
Diante do impasse, foi encorajada pelo esposo a escrever o que seria a segunda parte daquele primeiro projeto, uma vez que a trama deste, “Elos da mesma corrente”, se desenvolve, exclusivamente, em Vila Boa de Goiás, facilitando, portanto, a sua execução, até porque ela já havia, no seu intimo, resenhado-o há muito tempo.
Quando começou a escrever o romance Da. Rosarita estava com menos de quarenta anos de idade, morava em Araguari, onde o esposo era engenheiro da estrada de ferro Goiás; por se sentir muito sozinha (conta-me Elizabeth) resolveu dar asas à imaginação e iniciou os originais do livro; utilizava-se de uma maquina Olivetti e trabalhava no período da tarde (quando as crianças estavam na escola) e de madrugada.
Ela afirmava, como sempre acontece com o escritor ficcionista, que os fatos e personagens do romance, não guardavam nenhuma semelhança com pessoas vivas ou mortas, porém, muitos parentes que leram o livro na época do seu lançamento se achavam retratados no mesmo.
A este respeito o autor do livro “Casas de Família”, Denis Tillinac, escreveu na página de rosto: “A família Aubac não existe. Nem os ambientes, os personagens e as situações evocadas neste romance. Nada, entretanto, foi inventado...”
De fato, conhecendo (como conhece sua filha) os fatos reais, podem-se verificar algumas coincidências: a fazenda Santa Tereza, que pertenceu aos avós da autora, local onde ela passava algumas férias escolares, ganhou, no romance, o nome de Santa Lucia, aliás, é necessário acrescentar que o Dr. Gerônimo, seu esposo e primo, por ser 13 anos mais velho, lembrava-se de muitos detalhes que ela olvidava, inclusive, reconstruiu, para ela, a planta da fazenda, facilitando, portanto, que os personagens “circulassem” pelas veredas com maior facilidade.
Tenho minhas dúvidas, porém, acho que o personagem “nêgo José” do romance é superponível ao antigo nego Salú, escravo do avô da autora; bem, de toda maneira, pode-se parafrasear Oscar Wilde “A arte imita a vida”.
Depois de escrito o romance (três anos de trabalho intelectual), a grande dificuldade foi a impressão; cinco anos de lutas e muitas contrariedades, pois a mesma foi feita na oficina gráfica da Estrada de Ferro Goiás, no sistema linotipia (linha por linha), com infindáveis idas e vindas entre Aragauari e Goiânia, onde ela passou a residir a partir de 1954, dos “bonecos” dos capítulos.
Finalmente, em 1958, cansados, ela e o esposo, de corrigirem os originais, resolveram “fechar os olhos” para os erros e, em junho de 1958, o livro foi lançado no Bazar Oió, com grande expectativa do meio cultural.
Da. Rosarita, em uma oportunidade, voltou à antiga fazenda Santa Tereza, ficou decepcionada com o que viu; até o rio Fartura onde, provavelmente, ela mergulhou quando criança, já estava quase seco...
No entanto, se naquele dia ela fosse escrever novamente o romance, como grande ficcionista que foi, tenho certeza que ela recriaria todas as fantasias, reconstruiria a casa da fazenda, faria a água voltar a correr no rio Fartura e voltaria a embalar os sonhos dos seus leitores!

4 Comentários:

  • Às 22 de junho de 2011 às 21:02 , Blogger OféliaNigma disse...

    Ernesto se chama Geraldino, Lavínia se chama edina, ela teve um filho chamado Hélios José, que teve Flávia, que é minha mãe.
    Isabel, a que tocou o engenho, se chama Georgita.O maior desejo dela, que repetiu enquanto nova, era ser uma velha lúcida, pois achava ridículas as velhas que queriam se pintar, se fantasiar, se vestir como novas. Em seus últimos dias confessou que ser uma velha lúcida resultara em sua ruína: ver o corpo e a cara murcharem. Ernesto (Geraldino) amava a esposa, Juliana (Elisa), e não o contrário. E não era mau, nem sádico, apenas tinha mau gênio. Lavínia é fundição de Edina e Eponina, pois Elisa deixara a primeira com dois anos e a segunda com seis meses. Ninguém gostava de Edina, fora seu pai e sua avó, mãe de seu pai, que foi uma segunda mãe para ela. Já Eponina ganhava doces de Georgita às escondidas. As duas pessoas que poderiam contar essas histórias com mais detalhes já morreram, eram minha bisavó Edina e sua filha, minha tia-avó nádia.

     
  • Às 22 de junho de 2011 às 21:06 , Blogger OféliaNigma disse...

    Consta que alguns dias após a morte de Elisa, suas filhas foram levadas para a casa na capital, goiás, onde não havia berço. Uma noite, Eponina chorava, chorava, chorava, e não havia tia disposta a atendê-la. Após algum tempo, ao perceber que a menina se calara, e temendo que houvesse morrido de algo, sua tia Georgita encontra-a calada, contente, na rede balançando inexplicávelmente. Conta-se por algumas gerações que era Elisa quem balançava a rede.

     
  • Às 22 de junho de 2011 às 21:13 , Blogger OféliaNigma disse...

    Quando Rosarita lançou o livro, todos, absolutamente, da família romperam relações com ela, pois distorcera os fatos. Menos Edina, que continuou a enviar-lhe compotas de doces, o que acarretou mais uma briga com a irmã, Eponina.
    Edina conta que elisa era filha de dono de theatro, ia sempre em festas, frequentava a alta sociedade vilaboense, e não suportou ser levada por um homem que não amava tanto para uma fazenda no c*-do-mundo. Temia o escuro, muito. Fazia questão de vir para a cidade a cada comemoração que havia. Era semana santa, dia de vir, e Geraldino resolveu pregar-lhe uma peça. Mentiu que não haviam conseguido atrelar nenhum cavalo, de modo que semana santa, Elisa, "bau - bau". Ela não pode suportar isso, e tomou veneno pra rato. Deram-lhe leite, como de costume, mas ela foi atacada por vômitos violentos. Dizia que se arrependia de tudo, não queria morrer, pedia que Geraldino nunca desse uma madrasta a suas duas filas. Vomitou sobre o chinelo de Edina, que, sem compreender, disse "Mãe Isa, a senhora vomitô no meu chineim..." Elisa se levantou, lavou o chinelo da filha, deitou e morreu.

     
  • Às 20 de novembro de 2020 às 10:18 , Blogger Lucianarc72 disse...

    Olá Ofélia gostaríamos de entrar em contato nos mande seu watssap ou email.
    abreutv@hotmail.com, lucianarc72@hotmail.com

     

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